sábado, 27 de julho de 2019

Discurso de Formatura da turma de Filosofia (Puc-Rio), 27/07/2019




Patrono: Severino Boécio (in memoriam);

Paraninfo: Prof Edgar Lyra;


Homenageado: Prof. Rogério Soares da Costa;



Bom dia a todos(as)! É com muita alegria que estamos aqui reunidos, celebrando esta incrível conquista! Antes de começarmos a discursar, gostaríamos de agradecer efusivamente a Deus, pela Graça que nos concede; às nossas famílias, que nos deram suporte emocional e, muitas vezes, financeiro, para enfrentar esta jornada; ao Paraninfo escolhido por nossa turma, Prof. Edgar Lyra, cuja dedicação quase paternal aos seus alunos mostrou que existe acolhimento dentro do âmbito acadêmico; ao Professor Homenageado, Rogério Soares da Costa, que desempenhou – e ainda desempenha – um papel fundamental em nossa trajetória filosófica; aos demais professores(as) que compõem a presente mesa e à nossa querida Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro que constituiu o palco de nosso engrandecimento pessoal. Que as bênçãos do Pe. Leonel Franca estejam sempre conosco. Particularmente, gostaria de dizer que estou honrado por me formar junto de meu querido amigo, Agostinho Lafaiete, cujo esforço e dedicação, certamente, constituem exemplos de vida.
Severino Boécio, o Patrono escolhido para esta formatura, foi filósofo, teólogo e estadista que viveu no século VI. Autor de diversas obras filosóficas que influenciaram, substancialmente, a filosofia cristã do Medievo, foi condenado à morte injustamente. Na prisão, entre sessões de tortura, escreve sua obra magna: A Consolação da Filosofia. Nela, nosso Patrono relata que, em meio aos seus sofrimentos e lamúrias, a Filosofia aparece a ele na forma de uma mulher altiva, que inspira respeito pelo seu porte e cujo olhar de tão intenso parece estar em chamas, e o repreende por estar naquela situação, espiritualmente, miserável. Após a censura, ela o faz relembrar que a procura da sabedoria – isto é, da compreensão real dos acontecimentos da Fortuna, a qual todos estamos sujeitos – e do amor de Deus, como a verdadeira fonte da felicidade humana, consiste no verdadeiro caminho filosófico. Podemos dizer que A Consolação da Filosofia, bem como toda obra de Boécio, é uma tentativa de preservar o conhecimento antigo, ameaçado pela tomada do Império Romano pelos bárbaros. 
Para nossa surpresa, durante a conjectura deste discurso, a Filosofia nos concedeu a graça de sua presença e nos pediu para escrevermos as palavras que se seguem:
Que a busca pela Sabedoria sempre norteie suas vidas. Já que escolhestes meu caminho, precisarei vos dizer algumas coisas, a fim de guiá-los com maior segurança na jornada que leva à porta estreita da Verdade. Sim, da Verdade. Ora, se tu negas a sua existência, como pode se autonomear um amante da Sabedoria? Eis a primeira advertência que vos deixo: não se deixem iludir pelo império relativista que vos assolam. Pois toda vez que uma civilização entra em crise, seus Protágoras ganham voz. Assim ocorreu nos tempos Antigos, assim ocorre nos tempos atuais.
O filósofo, em tempos obscuros, deve tomar cuidado para não cometer os mesmos erros dos homens de ação. Estes estão à mercê dos acontecimentos, confundem as causas primeiras com as segundas e sempre erram de alvo quando agem. Alguns deles, por negarem veementemente a Verdade, se autoproclamam seus construtores. Então, tomam para si o trabalho de moldar a realidade, ao invés de se adaptarem a ela.
 Desconfiai, portanto, daqueles que pretendem mudar o mundo! Pois como podem querer transformá-lo sem antes saberem interpretá-lo corretamente? Dizem: ‘estamos fazendo isso por amarmos a humanidade!’, mas em nome deste amor abstrato pelos homens, quase sempre amam apenas a si mesmos, não passam de idólatras de seu próprio ego. 
Tu, porém, buscador da Sabedoria, seja como um farol que, em plena tempestade, onde os barcos estão à deriva, permanece sólido, não se deixando abalar pelas ondas e emitindo a luz que ilumina as trevas da ignorância. Confiai no conselho tomista: ‘a Verdade é filha do tempo’, e segue teu caminho com segurança.
Não deêm ouvidos às doutrinas que se travestem de meu manto, mas que tem como objetivo acabar com a Tradição dos valores da Alta Cultura – tradição esta, que foi erigida com o esforço de santos e regada pelo sangue de mártires, a começar por Sócrates. O que diremos, então, para aqueles que querem destruir os valores da Tradição, alegando que possuem a chave da felicidade, e que ela pertence a este mundo, que eles mesmos querem construir? Um firme e sonoro NÃO!
         Vós, herdeiros dessa Tradição e da Alta Cultura, aqui formados, cumpram o dever de mantê-las sempre vivas, nem que para isso também sejam torturados e condenados à morte! Que o espírito de Sócrates, Platão, Aristóteles, Plotino, Sto. Agostinho, Boécio, Sto. Tomás de Aquino, entre outros, sempre vos acompanhe. Assim seja!


Link do vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=ywvHjPJv5t4